DILEMAS DO AMOR
Maura residia numa cidadezinha do interior. Como toda jovem de sua idade, sonhava realizar um casamento feliz com um rapaz, pelos menos, de melhor nível do que o seu. Assim poderia morar numa cidade grande e levar para lá sua mãe.
Trabalhava como doméstica e estudava à noite. Num belo dia surgiu a oportunidade. seus patrões iam para a capital e se ofereceram para levá-la. Maura nem dormiu naquela noite. que bom! Ir morar na capital, fazer lindos passeios, ver lojas com lindas vitrines e…. quem sabe, encontrar o príncipe encantado.
Sua velha mãe não concordou, mas depois, vendo o entusiasmo da filha, resolveu ceder. Na sua ingenuidade de gente simples pensava: “Quem sabe ela encontra mesmo um belo casamento….”
Os primeiros dias na capital foram maravilhosos. Que diferença de sua vilazinha pobre e triste!
Nas suas idas para escola noturna, Maura conheceu um rapaz que sempre a esperava no ponto de ônibus. Um dia ofereceu-se para levá-la para casa. Maura era simples e boa, não conhecia a malícia humana. Aceitou. Com o tempo surgiu atração inevitável. Ele arriscou um convite para irem ao bar tomar aperitivo, depois um cinema, depois a um apartamento.
Quando Maura percebeu seu estado, ficou desesperada. O que fazer?. Uma “amiga” ofereceu-se para levá-la a um médico, mas era tímida não tinha coragem de expor sua situação a um desconhecido. Procurou o rapaz e este a recebeu com evasivas, como sempre. Um caso feliz levou-a para o consultório de uma obstetra conscienciosa.
A enfermeira abriu a porta do consultório que dava para sala de espera.
_Quem é a próxima?
Maura levantou-se e entrou. Diante da médica, falou nervosamente:
_Doutora…. não sei como começar. Mas…. estou aflita! Me ajude, doutora!
A doutora Ângela, impecavelmente distinta na brancura do uniforme, animou-a:
_Fale minha senhora!
_Doutora….eu…eu…errei….
A doutora acostumada a enfrentar aqueles problemas no seu consultório, sorriu complacente e perguntou:
_Quem é o rapaz?
Maura acalmou-se mais e começou a falar.
_Doutora, eu estou noiva. Pertenço a uma classe social que não perdoa erros como o meu. Será um escândalo! Não posso antecipar o casamento. Meus pais não sabem.
A doutora refletiu, com a mão no queixo.
_Mau, muito mau, senhorita. Seus pais, ou melhor, sua mãe deveria ser a primeira a saber.
_Por favor, doutora, isso lhe causaria um tremendo desgosto! Não! Isso não!
_É o que pretende fazer, “mademoiselle”?
_Doutora, talvez pudesse interromper….
_Senhorita, por que corrigir um erro com outro maior? Seria pior solução para o seu caso. A menos honesta, a menos justa, a menos cristã.
_Mas…. doutora, tantas fazem assim.
_ E então? o errado vira certo, porque a maioria o segue?
_Que fazer, doutora? Que sugere para mim?
_ Maura, você foi chamada por Deus e escolhida pela sociedade para uma missão sublime: a maternidade. Aconteceu por vias ilícitas, mas o fato está consumado. E você quer se livra dela. Você que negar a Deus e à sociedade a sua colaboração. Pior do que isso, você quer matar um inocente! Você teria coragem de chegar sorrateiramente junta a um berço onde um nenê dormisse calmamente e matá-lo friamente? Teria?
_Oh! Não doutora! Por favor! Não é a mesma coisa!
_Não é a mesma coisa? Essa vidinha que está começando a palpitar em você é uma grande promessa. É como um botãozinho da roseira. Se você matar o botãozinho não terá a rosa. O botãozinho já é vida.
Minha filha, você parece uma jovem bem dotada, entretanto, mal orientada. Converse seriamente com seu noivo e com sua mãe, Não custa tanta arranjar um pretexto. Uma viagem imprevista, uma doença em família e antecipa-se a cerimônia.
Maura levantou-se como autômato e saiu. Não tomou o elevador. Desceu as escada e ganhou a rua. Começou a andar sem rumo. As palavras da doutora lhe martelavam o cérebro: Um bercinho…..um nenê….Sérgio…Matar….matar….matar!
De repente estacou. Uma freada brusca, gritos, um baque surdo e Maura viu sob as rodas de um carro, um corpinho de criança esmagado. Sangue…muito sangue tingindo o asfalto, muita gritaria e a mulher desesperada, segurando aquela massa disforme que fora seu filho.
Maura ficou apavorada. Nem sabe quanto correu. Entrou em casa como uma sonâmbula. Na sala encontrou a mãe que viera visita-la.
_O que foi filhinha? Você está pálida! Onde estava agora?
_Mamãe….o desastre…..o menino morto…..o carro assassino….que horror!
_Que disse, filha? Não entendo nada.
Maura caiu nos braços da mãe, soluçando.
*******
Naquela mesma noite tiveram uma longa conversa.
O tempo foi passando. Certo dia, Maura, reclinava sobre um bercinho azul, tinha o sorriso das mães felizes. Ao seu lado, Sérgio afagava a cabecinha inocente e dizia: Será o nosso ponto de honra, querida, educar nosso filhinho da melhor maneira possível!
_Sim, querido, faremos dele um homem de bem, um grande homem, um grande médico.
Ps.: Reflitam sobre esta história que poderia ser comigo ou com você, reflitam com carinho. Amo todos vocês.
FONTE: Ecos Marianos- Almanaque de Nossa Senhora Aparecida de 1980.
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